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sábado, 26 de novembro de 2011

Lutero e as Indulgências

1- Introdução

Muito se fala na revolução protestante como um 'bem' a sociedade. Dentre muitos aspectos, ressaltam inclusive que Lutero protestava principalmente contras o pagamento de indulgências. Este artigo visa desmentir exclusivamente este aspecto da doutrina luterana.

2- Da Indulgência 


A Igreja Católica sempre dividiu os pecados em mortais e veniais, de acordo com a gravidade. Os pecados mortais seriam os pecados mais graves e que condenariam as pessoas à pena eterna. Ao contrário, os pecados veniais seriam aqueles mais brandos que condenariam a pessoa à pena temporal (purgatório).  
Essa doutrina advém de dois princípios básicos. O primeiro que admite Deus como bem absoluto e o segundo que admite que o mal, de qualquer natureza ofende a Deus. O fato é que todo pecado encerra algo de infinito, já que o bem absoluto (Deus) que é necessariamente infinito e aquela ação que pretende colocar algum bem acima do bem absoluto (que é infinito), só pode pretender aniquilá-lo em detrimento de algo finito.
Sendo assim era preciso que todo homem descendente do pecador original pagasse com uma pena infinita, pelos seus pecados. Somente com a encarnação e paixão divina, fruto de sua infinita misericórdia, é que seria possível livrar o homem do pecado original.
Ainda que a paixão de Cristo livrasse o homem do pecado descendente do primeiro homem, não poderia livrar o homem pelos seus pecados individuais. Assim sendo, cada homem está obrigado a cumprir uma penitência temporal para os pecados que comete. Dessa forma é que após a confissão é necessária uma penitência ou um ato de boa obra que pode restabelecer a amizade do pecador com Deus. 
A indulgência é fruto, sempre de um ato de boa obra, pois é somente através da boa obra que Deus livra o homem do pecado. Obviamente , devido a um pecado enorme, não basta qualquer boa obra. Para um pecado grande, é necessária uma boa obra grandiosa e só quem pode dizer quais atos culminam na livração da pena temporal é a Igreja de Cristo. Por isso, que o papa concede indulgências em algumas vezes. Ela apenas determina teologicamente qual ato é suficiente para expiar o pecado e assim livrar o homem da pena temporal (Purgatório). 
Recebe indulgência, por exemplo, uma pessoa que durante o período de finados se confessa e vai diariamente ao cemitério e reza uma oração pela salvação dos mortos. Um exemplo claro que de a indulgência precisa de uma boa obra, nessa caso o amor ao próximo.

3- Da Indulgência Luterana 
Diversas vezes Lutero se demonstrou favorável a uma tese que diz o seguinte: O pagamento de alguma quantia em dinheiro à instituição cristã expia o pecado do homem. Lutero era a favor não só da venda de indulgências, bem como da generalização de que para todo pecado, o mesmo ato culminaria no livramento da pena temporal e sem confissão. Isso fica claro no sermão de julho de 1517. No seu artigo 14, o sermão diz o seguinte:
"A indulgência é permitida por causa dos cristãos imperfeitos e preguiçosos que não querem exercitar-se em boas obras ou não querem sofrer. Pois a indulgência não promove o melhoramento de ninguém, mas sim tolera sua imperfeição e a permite. Por esta razão não se deve falar contra a indulgência, mas também não se deve recomendá-la a ninguém."  
O artigo, apesar de ambíguo, diz que a indulgência pode ser aplicada sem uma boa obra. Ora, a tolice consiste no fato de que a indulgência é devida a uma boa obra, pois a indulgência é um ato de Deus.
Em 31 de outubro do mesmo ano, Lutero afixou na porta de uma igreja em Wittenberg as famosas 95 teses. Muito se fala nessas 95 teses como princípios da reforma protestante, mas sem explicitar seu conteúdo. Na sua tese 47, Lutero afirma o seguinte:
"Deve-se ensinar aos cristãos ser a compra de indulgências livre e não ordenada."
Nessa tese, Lutero não só deixa claro que a compra de indulgência é lícita, bem como diz o meio pelo qual ela pode ser exercida, isto é sem ser a força.
Apesar disso, em outras teses, Lutero deixa claro que é preferível que um homem doe dinheiro aos pobres do que que compre indulgências.
"É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal para que o homem singelo não pense ser a indulgência preferível a demais obras de caridade ou superior a elas."
Nessa tese 41, Lutero estabelece um comparativo praticamente dando a compra de indulgência uma posição de virtude, pois a compara com outra virtude, a caridade. Contudo , ele mesmo afirma no seu sermão que a indulgência bem serve aos preguiçosos. Então a indulgência, que é um ato de preguiça, está no mesmo plano do ato de caridade. 
Como podemos observar, o monge não só defendia teses abomináveis, bem como se confunde todo em um texto pequeno e simples.

4- Conclusão 

O que podemos afirmar certamente através dos documentos históricos é que Lutero defendia a venda de indulgências, ao contrário do que muito se diz por aí.  Ainda fica claro (não tanto quanto) porque as igrejas protestantes, luteranas que são, fundam boa parte de seu exercício de fé na apreensão financeira do fiel.
De outra forma, fica igualmente claro que segundo Lutero, um homem rico, ainda que preguiçoso tenha chance maior de salvação do que um homem pobre.